Camões - Cap. 6: CANTO SEXTO Pág. 99 / 177

CANTO SEXTO

Não tinha em tanto os feitos gloriosos

De Aquiles, Alexandre na peleja,

Quanto de quem o canta os numerosos

Versos; isso só louva, isso deseja,

Lusíadas

I

O ceptro de Manuel, nas mãos já débeis

De Joane começado a desdourar-se

Do esmalte das vitórias e triunfos

Com que tanta virtude o adereçara,

O ceptro que, nas mãos doutro Joane

Que ensinou a ser reis os reis do mundo,

Fora vara de lei e de justiça,

Fiel de liberdade bem pesada

Na balança da pública ventura,

Ora na dextra de inexperto jovem

Vergado a maus conselhos, vacilante

Por meneio indiscreto, mal dirige

A máquina do estado, que parece

Mover-se ainda pelo antigo impulso

De melhor regedor. O astro de Lísia

Do zénite de sua glória descrevia

Curva afrontosa a miserando ocaso,

Que de Alcácer nas tórridas areias

Erros, crimes, traições lhe estão cavando.





Os capítulos deste livro