CANTO SEXTO Não tinha em tanto os feitos gloriosos
De Aquiles, Alexandre na peleja,
Quanto de quem o canta os numerosos
Versos; isso só louva, isso deseja,
Lusíadas
I
O ceptro de Manuel, nas mãos já débeis
De Joane começado a desdourar-se
Do esmalte das vitórias e triunfos
Com que tanta virtude o adereçara,
O ceptro que, nas mãos doutro Joane
Que ensinou a ser reis os reis do mundo,
Fora vara de lei e de justiça,
Fiel de liberdade bem pesada
Na balança da pública ventura,
Ora na dextra de inexperto jovem
Vergado a maus conselhos, vacilante
Por meneio indiscreto, mal dirige
A máquina do estado, que parece
Mover-se ainda pelo antigo impulso
De melhor regedor. O astro de Lísia
Do zénite de sua glória descrevia
Curva afrontosa a miserando ocaso,
Que de Alcácer nas tórridas areias
Erros, crimes, traições lhe estão cavando.