CANTO DÉCIMO «Que exemplos a futuros escritores»
Lusíadas
I
O Tejo o ouviu no algoso de suas grutas,
E em despeitoso brado lhe responde.
Gemem as ninfas que o lidado canto
Inspirado lhe haviam, e em suas telas
Com tristes, negras cores debuxaram
A injúria, o crime, a ingratidão tão feia
Que indelével nos fastos portugueses
É mancha horrenda e vil...
II
Arqueja exangue,
Definha à míngua, só, desamparado
Dos amigos, do rei, da pátria indigna,
O cantor dos Lusíadas. - Ah! como!
Qu’é das gratas promessas do monarca?
Qu’é de tanta esperança lisonjeira?
Perfídia baixa e crua, onde hás pousado?
No coração da inveja e da ignorância,
Do fanatismo bárbaro. Soaram
Tremendos nos ouvidos criminosos
Dos cortesãos hipócritas e astutos
Os livres sons do nobre patriotismo
Com que a treda impostura d’ímpios bonzos
E a tirania infame de validos
O guerreiro cantor asseteara.