CANTO QUINTO Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Camões, Sonetos
I
«Correi sobre estas flores desbotadas,
Lágrimas tristes minhas, orvalhai-as,
Que a aridez do sepulcro as tem queimado.
Rosa d’amor, rosa purpúrea e bela,
Quem entre os goivos te esfolhou da campa?
II
«O viço de meus anos se há murchado
Nas fadigas, no ardor sevo de Marte;
Estranhas praias, ignoradas gentes,
Bárbaros cultos vi; gemi n’angústia,
Penei ao desamparo, em soledade;
Vaguei sozinho à míngua e sem conforto
Pelos palmares onde ruge o tigre:
Tudo sofri no alento duma esp’rança
Que, no instante de vê-la me há fugido...
Rosa d’amor, rosa purpúrea e bela,
Quem entre os goivos te esfolhou da campa?
III
«Longe, por esse azul dos vastos mares,
Na soidão melancólica das águas
Ouvi gemer a lamentosa Alcíone,
E com ela gemeu minha saudade.