A Guerra das Gálias - Cap. 8: LIVRO VI Pág. 154 / 307

A violação da hospitalidade é tida por sacrilégio; os que, por uma razão qualquer, vão às suas casas, são protegidos contra toda a violência e considerados como sagrados; todas as casas lhes estão abertas; com eles se partilham os víveres.

XXIV - Houve um tempo em que os Gauleses superavam os Germanos em bravura, levavam a guerra ao seu território, enviavam colónias para lá do Reno (118) porque eram numerosos e lhes faltavam terras. Foi assim que as regiões mais férteis da Germânia, nas proximidades da floresta herciniana (da qual vejo Eratóstenes e certos autores gregos ouviram falar, e que chamam Orcinia), foram ocupadas pelos Volcas Tectosagos, que ali se fixaram. Este povo por lá se manteve até este dia e tem a maior reputação de justiça e de glória guerreira. Ainda hoje os Germanos vivem na mesma pobreza, na mesma indigência, na mesma resistência, têm o mesmo género de alimentação e de vestuário. Os Gauleses, ao contrário, graças à vizinhança da Província e às importações do comércio marítimo, aprenderam a usufruir de uma vida mais liberal e fácil; acostumados pouco a pouco a deixarem-se bater, vencidos em numerosos combates, nem já eles próprios se comparam aos Germanos pelo valor.

XXV - A largura desta floresta herciniana, da qual falámos, é de nove jornadas de marcha para um viajante equipado à ligeira, e não pode ser determinado de outra maneira, dado as nossas medidas itinerárias não serem conhecidas dos Germanos. Começa nas fronteiras dos Helvécios, dos Németes e dos Ráuracos e estende-se ao longo do Danúbio até ao país dos Dácios e dos Anartes; dali, vira à esquerda afastando-se do rio e, em consequência da sua vasta extensão, limita o território de muitos povos. Não há germano algum desta região que, depois de sessenta dias de marcha, possa dizer que chegou ao fim, nem saber em que lugar ela começa.





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