Amor de Perdição - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 53 / 145

– O que quiser, menina. Eu mando lá logo que for dia. Esteja descansada. Não se fie de alguém, senão de mim. Olhe que a mestra de noviças e a organista são duas falsas. Não lhes dê trela, que, se as admite à sua confiança, está perdida. Aí vem a lesma… Fale-mos noutra coisa…

A prelada vinha entrando, e a escrivã prosseguiu assim:

– Não há, não há nada mais agradável que a vida do convento, quando se tem a fortuna de ter uma prelada como a nossa… Ai! eras tu, menina? Olha se estivéssemos a falar mal de ti!

– Eu sei que tu nunca falas mal de mim – disse a prelada, piscando o olho a Teresa. – Aí está essa menina que diga o que eu lhe estive a dizer das tuas boas qualidades…

– Pois o que eu disse de ti – respondeu sóror Dionísia da Imaculada Conceição – não precisas de perguntar, porque felizmente ouviste o que eu estava dizendo. Oxalá que se pudesse dizer o mesmo das outras que desonram a casa, e trazem aqui tudo intrigado numa meada, que é mesmo coisa de pecado!

– Então não vais ao coro, Nini? – tornou a prioresa.

– Já agora é tarde… Tu absolves-me da falta, sim?

– Absolvo, absolvo; mas dou-te como penitência beberes um copinho…

– Do estomacal?

– Pudera!… Dionísia cumpriu a penitência, e saiu para, dizia ela, deixar a prelada na sua hora de oração.

Não delongaremos esta amostra do evangélico e exemplar viver do convento onde Tadeu de Albuquerque mandara sua filha a respirar o puríssimo ar dos anjos, enquanto se lhe preparava crisol mais depurador dos sedimentos do vício no convento de Monchique.

Encheu-se o coração de Teresa de amargura e nojo naquelas duas horas de vida conventual. Ignorava ela que o mundo tinha daquilo. Ouvira falar dos mosteiros como de um refúgio da virtude, da inocência e das esperanças imorredoiras. Algumas cartas lera de sua tia, prelada em Monchique, e por elas formara conceito do que devia ser uma santa. Daquelas mesmas dominicanas, em cuja casa estava, ouvira dizer às velhas e devotas fidalgas de Viseu virtudes, maravilhas de caridade, e até milagres. Que desilusão tão triste e, ao mesmo tempo, que ânsia de fugir dali!





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