O Primo Basílio - Cap. 6: CAPÍTULO VI Pág. 178 / 414

Estava para mandar à tua casa... Devia receber aí um dinheiro e não veio. Dá cá uma libra.

E imediatamente começou a falar da tese. A coisa saía!

Leu-lhe parágrafos do prólogo com uma deleitação paternal, e, muito satisfeito, na abundância de confiança que dá a excitação do trabalho, com grandes passadas pelo quarto:

- Hei de lhes mostrar que ainda há portugueses em Portugal, Sebastião! Hei de os deixar de boca aberta! Tu verás!

Sentou-se; pôs-se a numerar as folhas escritas, assobiando. Sebastião, então, com timidez, quase vexado de perturbar com as suas preocupações domésticas aqueles interesses científicos, disse baixo:

- Pois eu vim-te falar por causa lá da nossa gente...

Mas a porta abriu-se com força, e um rapaz de barba desleixada, e olhar um pouco doido, entrou; era um estudante da Escola, amigo de Julião, e quase imediatamente os dois recomeçaram uma discussão que tinham travado de manhã, e que fora interrompida às onze horas, quando o rapaz de olhar doido a almoçar à Áurea.

- Não, menino! - exclamava o estudante, exaltado. - Estou na minha! A Medicina é uma meia ciência; a Fisiologia é outra meia ciência! São ciências conjeturais, porque nos escapa a base, conhecer o princípio da vida!

E cruzando os braços diante de Sebastião, bradou-lhe:

- Que sabemos nós do princípio da vida?

Sebastião, humilhado, baixou os olhos.

Mas Julião indignava-se:

- Estás desmoralizado pela doutrina vitalista, miserável! - Trovejou contra o Vitalismo, que declarou "contrário ao espírito científico". Uma teoria que pretende que as leis que governam os corpos brutos não são as mesmas que governam os corpos vivos - é uma heresia grotesca - exclamava. - E Bichat que a proclama é uma besta!

O estudante, fora de si, bradou - que chamar a Bichat uma besta era simplesmente de um alarve.





Os capítulos deste livro