O Primo Basílio - Cap. 12: CAPÍTULO XII Pág. 334 / 414

- Você manda-me calar, sua p...! - E Juliana disse a palavra.

Mas a Joana correu, atirou-lhe pelo queixo uma bofetada que a fez cair, com um gemido, sobre os joelhos.

- Mulher! - bradou Luísa arremessando-se sobre a Joana, agarrando-a pelos braços.

Juliana, assombrada, fugiu.

- Ó Joana! Ó mulher! Que desgraça, que escândalo! - exclamava Luísa as mãos apertadas na cabeça.

- Racho-a! - dizia a rapariga com os dentes cerrados, os olhos como brasas - Racho-a!

Luísa andava em volta da mesa da cozinha, automaticamente, pálida como repetindo, toda a tremer:

- O que você foi fazer, mulher! O que você foi fazer!

A Joana, ainda toda revolvida de sua cólera, com o rosto manchado de vermelho, remexia furiosamente as panelas.

- E se ela me diz uma palavra, acabo-a, aquela bêbeda! Acabo-a!

Luísa desceu ao quarto. No corredor saiu-lhe Juliana, com a cuia à banda, as dedadas escarlates na face, medonha.

- Ou aquela desavergonhada vai já para a rua - gritou ela - ou eu vou-me pôr lá embaixo na escada, e quando o seu homem vier, mostro-lhe tudo!...

- Pois mostre, faça o que quiser! - disse Luísa, passando, sem a olhar.

Fora uma desesperação, um ódio que a tinham decidido. Mais valia acabar por uma vez!...

Sentia então como um alívio doloroso, em ver o fim do seu longo martírio! Havia meses que ele durava. E pensando em tudo o que tinha feito e que tinha sofrido, as infâmias em que chafurdara e as humilhações a que descera, vinha-lhe um tédio de si mesma, um nojo imenso da vida. Parecia-lhe que a tinham sujado e espezinhado; que nela nem havia orgulho intacto, nem sentimento limpo; que tudo em si, no seu corpo e na sua alma, estava enxovalhado, como um trapo que foi pisado por uma multidão, sobre a lama.





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