Os Maias - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 64 / 630

Não ensinaria à criança habilidades de acrobata; mas havia de lhe dar uma educação de fidalgo, prepará-lo para fazer boa figura em Coimbra.

Nesse momento, o abade, suspeitando uma corrente de ar, erguera-se da mesa de jogo a fechar o reposteiro: então, como Afonso já não podia ouvir, D. Ana ergueu a voz:

- E olhe que o Custodio teve desgosto, Sr. Vilaça. Que o Carlinhos, coitadinho, nem uma palavra sabe de doutrina... Sempre lhe quero contar o que sucedeu com a Macedo.

Vilaça já sabia.

- Ah já sabe? Lembras-te viscondessa? Com a Macedo, do acto de contrição...

A viscondessa suspirou, erguendo um olhar mudo ao céu através do tecto.

- Horroroso! continuou D. Ana. A pobre mulher chegou lá a nossa casa embuchada... E eu fez-me impressão. Até sonhei com aquilo três noites a fio...

Calou-se um momento. Vilaça, embaraçado, acanhado, fazia girar a caixa de rapé nos dedos, com os olhos postos no tapete. Outro langor de sonolência passou na sala; D. Eugénia, com as pálpebras pesadas, fazia de vez em quando uma malha mole no crochet; e a noiva de Carlos, estirada para o canto do sofá, já dormia, com a boquinha aberta, os seus lindos cabelos negros caindo-lhe pelo pescoço.

D. Ana, depois de bocejar de leve, retomou a sua ideia:

- Sem contar que o pequeno está muito atrasado. A não ser um bocado de inglês, não sabe nada... Nem tem prenda nenhuma!

- Mas é muito esperto, minha rica senhora! acudiu Vilaça.

- É possível, respondeu secamente a inteligente Silveira.

E, voltando-se para Eusébiozinho, que se conservava ao lado dela, quieto como se fosse de gesso:

- Oh filho, diz tu aqui ao Sr. Vilaça aqueles lindos versos que sabes... Não sejas atado, anda!... Vá, Eusébio, filho, sê bonito...

Mas o menino, molengão e tristonho, não se descolava das saias da titi: teve ela de o pôr de pé, ampará-lo, para que o tenro prodígio não aluísse sobre as perninhas flácidas; e a mamã prometeu-lhe que, se dissesse os versinhos, dormia essa noite com ela...





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