O Processo - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 129 / 183

K. sentiu que quase as conseguia ver através da porta. «Mas olhe que tem de manter a sua palavras, avisou o pintor, que não o acompanhara, «caso contrário, terei de me deslocar pessoalmente ao Banco para me informar.» «Abra-me a porta, sim?», pediu K., manejando o puxador, ao qual, a avaliar pela resistência que sentia, as raparigas se tinham agarrado do lado de fora. «O senhor não deseja ser perturbado pelas raparigas, pois não?», perguntou o pintor «Então será melhor utilizar esta saída.» E indicou a porta por detrás da cama. K. estava absolutamente disposto a fazê-lo e precipitou-se para a cama. Contudo, em vez de abrir a porta ao pé da cama, o pintor gatinhou por baixo desta e disse dali: Aguarde só um minuto. Não quererá ver um ou dois quadros meus que talvez lhe interesse comprar?» K. não queria ser descortês, pois o pintor tinha, na realidade, mostrado bastante interesse por ele, prometera continuar a ajudá-lo e fora também devido a distracção que K. não lhe havia perguntado quais os honorários pelos serviços que lhe estava a prestar, não podendo por essa razão ignorar agora a sua oferta, pelo que assentiu ver os quadros, ainda que tremesse de impaciência por sair daquele lugar. Tirorelli arrastou uma pilha de telas sem caixilho de debaixo da cama; estavam todas tão cheias de pó que, quando ele soprou a tela que estava por cima, K. quase ficou cego e horrorizado com a nuvem que se levantou. «Natureza bravio, uma charneca», disse o pintor, entregando a tela a K. casam-se duas árvores enfezadas, afastadas uma da outra na relva amarelecida. No plano de fundo, via-se um pôr do Sol muito colorido. «Bonito!», comentou K., «quero comprá-lo.» O laconismo de K. foi impensado e por isso ficou satisfeito quando o pintor, em vez de se mostrar ofendido, levantou outra tela do chão. Daqui tem a companheira da outras, disse ele. Podia pretender-se que fosse uma companheira, mas não distinguia a mínima diferença entre ambas, pois lá estavam as duas árvores, a relva e o pôr do Sol. K, contudo, não se importou com isso. «São umas lindas paisagens», disse ele. «Comprarei as duas e pendurá-las-ei no meu gabinete.» «O senhor parece gostar do remará, comentou o pintor, puxando para fora uma terceira tela «Por sorte, tenho aqui mais um destes estudos.» Mas não era meramente um estudo semelhante, era simplesmente a mesma paisagem de uma charneca bravio. O pintor estava aparentemente a explorar até à última esta oportunidade de vender os seus velhos quadros. «Levarei esse também», volveu K «Quanto lhe devo por estes três quadros?» «Falaremos disso da próxima vez», respondeu o pintor.





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