O Processo - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 67 / 183

Veja como é gordo... os primeiros açoites perder-se-ão nas gorduras. Sabe o que o engorda tanto? Enche-se com os pequenos-almoços das pessoas que prende. Não é verdade que também comeu o seu pequeno-almoço? Então vê, tal como lhe disse. Mas um homem com uma barriga daquelas nunca poderia tornar-se um algoz, está absolutamente fora de questão.» «Mas há algozes como eu», manteve Willem, desapertando o cinto das calças. «Não», respondeu-lhe o outro, passando-lhe o açoite à volta do pescoço de tal maneira que ele se encolheu todo, «você não tem nada que escutar o que estamos a dizer, e trate de despir a roupa.» Recompensá-lo-ei bem se os deixar ir embora», propôs K., que, sem olhar outra vez para o algoz, continuou: «Sim, porque este tipo de coisas trata-se melhor quando ambas as partes desviam o olhar», tirou a carteira do bolso. Com que então o senhor também quer apresentar queixa contra mim para depois me mandar açoitar? Não, não, por favor!» «Seja razoável», volveu K, «se eu quisesse que estes dois homens fossem punidos, não tentaria agora oferecer-lhe alguma coisa para não os molestar. Podia simplesmente partir, fechar esta porta atrás de mim, fechar os olhos e os ouvidos e ir direito a casa. Não quero, contudo, fazer isso, quero realmente sabê-los livres; se soubesse que eles seriam castigados, ou mesmo que poderiam vir a ser castigados, nunca teria mencionado os seus nomes. A meus olhos, não são eles os verdadeiros culpados. A culpa está, sim, na organização. São os funcionários superiores os responsáveis pelas faltas.» «É exactamente assim», gritaram os guardas, que imediatamente levaram uma chicotada nas costas, que estavam agora nuas. «Se fosse um dos eminentes juízes que você estivesse a açoitar», disse K., que, ao mesmo tempo que falava, deitava a mão ao açoite que o algoz levantara de novo, «com certeza que não impediria que lhe aplicasse um violento correctivo, mas ainda o recompensaria, encorajando-o a executar aquele bom trabalho.» «O que o senhor diz parece bastante razoável», disse o homem, «mas recuso-me a ser subornado. Estou aqui para açoitar pessoas e por isso as açoito.» O guarda Franz, que, talvez por desejar que a intervenção de K. fosse bem sucedida, se conservara o mais possível afastado, aproximou-se então da porta, apenas com as calças vestidas, caiu de joelhos e, agarrando-se ao braço de K., sussurrou: «Se não conseguir convence-lo a livrar-nos a ambos, tente, pelo menos, livrar-me a mim. Willlem é mais velho que eu e muito menos sensível também; além disso, em tempos sofreu já um pequeno castigo de açoite, ao passo que eu nunca passei por essa vergonha e fui apenas levado por Willem, pois ele é o meu professor, quer para o bem quer para o mal.





Os capítulos deste livro