Camões - Cap. 4: CANTO QUARTO Pág. 70 / 177

Ao longo vinha

Da solitária praia respirando

A fresca viração que mal das águas

Leve encrespava a superfície apenas;

Uma voz me chamou, - voz que em meu peito

Ouve inda o coração - voz doce e meiga,

Que nunca mais... oh! nunca mais na terra

Escutarei dos vivos... - volvo o rosto:

De baixa gelosia me acenava

Com um cândido véu, mais nívea e cândida,

Formosa e breve mão. Flutuando ao vento

O véu caiu, e a dextra desaparece.

IV

«Ergui-o palpitando: um nó o atava.

Trémulo o desabrocho - era oiro puro,

Oiro daquelas tranças tão queridas,

Rica jóia d’amor. Coa doce prenda

Vinha um bilhete: abri-o, li: - «Roubado

Foi este instante a bárbaros tutores.

Insensatos! vigia mais do que eles

Amor, que pode tudo. A minha glória,

Pu-la em teu coração; minha ventura,

Minha vida, o meu ser de ti confio.





Os capítulos deste livro