Camões - Cap. 5: CANTO QUINTO Pág. 97 / 177

XIV

A vós já volvo, ó solidões de Sintra,

E ao vate que suspira melancólico

Entre esses que parecem dispersados

Túmulos de gigantes - ou ruínas

D’algum primeiro tempo cujos mitos

Esquecidos aí jazem, desprezados

Nesses brutos lascões. - Últimas notas

De sua triste canção inda zumbiam

Pelas asas dos plácidos favónios,

Quando uma voz: - «Não é de ânimo grande

Sucumbir aos reveses: gema embora

O coração ferido; mas um prazo

Deu a razão às lágrimas. Segui-me.»

- «Onde? a quem?... Ah! sois vós?»

- «Sou eu, amigo;

Cavaleiro, sou eu. Vinde; à justiça

Porta abrimos enfim: ver-vos deseja

E ouvir-vos o monarca.»

- «A mim!»

«Puderam

Chegar ao trono as vozes da verdade.

Sabe quem sois el-rei; louvou com ênfase

O amor da pátria glória que a alta empresa

De perpetuar seu nome há cometido,

Dando aos heróis de Lísia eterna fama.





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