O Garimpeiro - Cap. 13: XIII – OS VIZINHOS Pág. 100 / 147

Logo depois da cena da prisão, o Major dirigiu-se ao quarto de sua filha.

- Minha filha, disse ele, reveste-te de paciência e de coragem; tenho mais um triste contratempo a anunciar-te.

- Qual é, meu pai?... fale! fale!...

- Não te aflijas, querida Lúcia. O golpe é bem sensível, mas creio que mais para mim, do que para ti. O negócio há-de ser sabido imediatamente, e antes que outro te conte, quero que o saibas de minha própria boca.

- Então o que é, meu pai?... pode falar sem susto. Eu já estou acostumada a ouvir más novas.

- Acabo de assistir a uma cena bem triste. Leonel, o teu noivo, acaba de ser preso aqui à porta de nossa casa!...

- Sim, meu pai?!... - exclamou Lúcia, levantando-se com um brilho estranho nos olhos, que o pai tomou por um novo acesso de delírio, e que não era mais do que um lampejo de uma alegria que quase se parecia com a loucura.

- Sim? - continuou ela. - O Sr. Leonel preso? e por quê, meu pai?

- Não sei ainda; mas sem dúvida pelo crime de moeda falsa, de que o acusava o pobre Elias... E ninguém acreditava!... meu Deus!... como são as coisas deste mundo!...

- E que sina a minha, meu pai! ah! não há nada certo nem seguro neste mundo!

- Tranquiliza-te, minha filha; e dá graças ao céu que nos veio livrar talvez das garras de um embusteiro, de um monstro. Foi para nós uma felicidade.

- Foi mesmo, meu pai; foi uma felicidade muito grande. Aquele homem, não sei por que, fazia-me medo. Uma antipatia invencível me arredava dele… Ah!... foi como se me tirassem um peso de cima do coração!

- E como te resignavas a casar-te com ele?...

- Era um sacrifício, meu pai.

- Sacrifício!

- Sim, meu pai, um sacrifício, mas um sacrifício para sua felicidade e de minha irmã; um sacrifício imposto pelo dever.





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