Já não se lembra de assim mo ter declarado?
- Lembro-me, Lúcia; mas se soubesse que tinhas tanta repugnância...
- Muita! muita repugnância!
- Se eu o soubesse, antes queria sofrer toda a sorte de misérias, do que tornar para sempre desgraçada a minha filha...
- É verdade! eu seria muito, muito desgraçada.
- E por que te não abrias comigo com toda a franqueza?
- À vista do que meu pai me falou, era meu dever calar-me e submeter-me.
- Ó boa e querida filha... e como teu coração adivinhava! e eu, cego e cruel pai que eu era! te ia arrastando sem piedade para tão duro sacrifício!... perdoa-me, minha Lúcia. Louco e desventurado pai que sou!...
- Meu pai, esqueçamo-nos de tudo isso; agora só devemos nos alegrar e dar graças ao céu que tão a tempo nos veio livrar das mãos daquele homem que só queria a nossa perdição.
- Tens razão, minha filha; demos graças ao céu. Adeus; vai descansar. Ainda não estás boa, e tens necessidade de repousar. Adeus.
Apenas o Major saiu, Lúcia foi lançar-se de joelhos aos pés de um crucifixo, que tinha pendurado à cabeceira do catre, e com todo o fervor de seu coração murmurou esta oração de graças:
“Ó meu pai do céu, eu vos rendo infinitas graças pelo imenso benefício que acabais de fazer-me, livrando-me das ciladas e um malfeitor, que me queria arrojar no abismo da perdição e da desgraça. Eu bem sei que não merecia tão assinalado favor, mas vós sois bom, e tivestes piedade de mim. Mas lembrai- vos também do infeliz Elias!... O pobre Elias!... tem direito de me querer mal... só me falta o seu perdão. Ah! Elias! quando souberes de tudo, tu me perdoarás... ”
Mal ia Lúcia acabando aquela prece, que do trono do Omnipotente ia sensivelmente se desviando para a pessoa de seu amante, quando entrou Joana no quarto.