O Major estava pasmo, e não sabia o que pensar da audácia e impavidez com que o moço proferia aquelas palavras que a seus olhos eram verdadeiros despropósitos. Estará louco este homem? Pensava; ou prevalecendo-se do estado de pobreza e desvalimento em que me acho, vem agora vingar-se insultando-me?...
Lúcia também, entre atónita e contente, não podia bem atinar com a significação daquele inesperado incidente, e ardia por ouvir da boca de Elias a explicação de tão extraordinário procedimento; mas não lhe ficando bem dirigir-lhe a palavra, o interrogava com os olhos, onde reluzia a mais ansiosa e viva curiosidade.
- Seguramente, - replicou o Major depois de um instante de silêncio, - o senhor está gracejando; mas permita-me que lhe advirta que nem a ocasião nem o assunto são próprios para zombarias.
- Perdão, senhor Major!... não zombo, nem sou capaz de zombar de ninguém em negócio tão melindroso. Repito-lhe que venho desmanchar um casamento, porque venho aqui de propósito para pedir a mão de sua filha para outra pessoa que tem mais direito a ela do que esse pretendente com quem a quer casar, e que em ponto nenhum lhe é inferior.
O assombro do Major crescia de ponto, ao mesmo tempo que se aumentava o contentamento de Lúcia, que começava a entrever o desfecho daquela cena.
- Então o senhor, - prosseguiu o Major pausadamente e carregando nas palavras; - então o senhor veio à minha casa de propósito para embargar o casamento de minha filha com a pessoa a quem eu quero dá-la? Deveras meu senhor? O senhor mesmo?...
- Sim, senhor! eu mesmo! - repetiu Elias com segurança.
- E quem lhe dá esse direito?.