O Garimpeiro - Cap. 2: II- A CAVALHADA Pág. 15 / 147

e nobre arte, dando-lhes ocasião de alardear o seu garbo e destreza em dirigir um possante e fogoso ginete aos olhos do público, e às vezes também de uma amante querida, que do fundo do seu palanque o anima com um olhar, ou com um sorriso.

Dizendo estas últimas palavras, Elias lançou furtivamente sobre Lúcia um olhar rápido.

- Triste meio de agradar às belas, fazendo papel de truão!, - exclamou com uma gargalhada o jovem negociante.

- É mais nobre e cavalheiresco - retorquiu Elias - do que o namoro nos bailes e nas igrejas, que é tão comum hoje. E ainda nisto a cavalhada é uma semelhança dos antigos torneios, nos quais os campeões tinham sempre uma dama dos seus pensamentos, pela qual iam romper lanças na sanguinosa liça.

- Oh! meu senhor! Já lá se foi o tempo dos D. Quixote e das Dulcinéias - disse o negociante.

- É verdade; hoje estamos no tempo dos melcatrefes e dos bonecos almiscarados; duvido que melhorássemos nesse ponto. O uso de correr cavalhadas também produziria ainda uma outra vantagem, e seria inspirar aos nossos fazendeiros o gosto pela criação de bons e bonitos animais, tendo mais capricho na escolha e apuração das raças cavalares, coisas de máxima importância, e que em nosso país se trata com o maior desleixo. A cavalaria é uma das armas mais poderosas, principalmente nas guerras da América, onde ela é indispensável, e sem bons cavalos e bons cavaleiros não pode haver boa cavalaria. Quando a arte for uma arte inútil, quando a carreira militar for uma profissão ignóbil e desprezível, então a cavalhada será um espetáculo só próprio para bobos e crianças.

- Não creia que hão de ser as cavalhadas, que se correm de anos em anos, quando se correm, que nos hão de dar bons cavaleiros, nem bons cavalos.





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