- Mas nesse caso, meu bom Simão, também não vou.
- E por que não, meu patrão?
- Como hei-de deixar-te aqui sozinho e desamparado!
- Não lhe dê isso cuidado. Ainda sei trabalhar. Deus é de misericórdia, e nunca há-de faltar a este pobre velho um prato de feijão e um ranchinho em que durma. Já que é para seu bem, vá, meu patrão; Vmcê não deve perder um lance de fortuna, que vem mesmo agora a talho de foice, por amor de um velho camarada, que já não é tão criança que não possa sair sozinho pelo mundo, e eu, a dizer a verdade, mais lhe iria servir de peso que de outra coisa.
- Contudo, Simão, não tenho ânimo de deixar-te assim. Se adoeceres...
- Não banze com isso. Tenho por aqui muito conhecimento, e muito patrão bom, que há-de ter dó de mim. Vá, patrão, e N. S. do Patrocínio permita que seja para bem. No entanto, cá para mim, a minha fé é mesmo com este garimpo daqui. É deste chão que nós havemos de um dia arrancar a sua estrela de pedra.
- Não creias tal, Simão, deste chão só podem brotar espinhos para mim e urtigas, lágrimas e misérias.
- Está bem!... um dia Vmcê se há-de desenganar; bote sentido no que estou dizendo. Vá para o seu Sincorá, e N. S. da Guia que lhe acompanhe. Vá procurar sua estrela de pedra lá por esse mundo de meu Deus, e deixe-me cá ficar procurando ela por aqui mesmo. Havemos de ver quem acha primeiro.
Elias nenhuma importância ligava àqueles pressentimentos do pobre Simão. Era simplicidade ou caduquice de seu velho camarada. Depois de conversarem mais algum tempo sobre sua próxima separação, ambos adormeceram: o camarada sobre um couro ao pé do fogo, e o patrão sobre sua pobre cama estendida sobre um girau a um canto do rancho.