E esta? também será falsa?
- Ainda mais falsa do que a outra, se é possível, exclamou o negociante, apenas olhou para a nota. Ah! meu caro senhor Elias, como é que foi deixar-se embaçar por essa maneira?...
- Falsa! falsa!... deveras? !... murmurava o moço com voz rouca e abafada.
- É o que lhe digo, meu amigo; ninguém aqui na Bagagem dará cinco réis por qualquer dessas notas.
- Em que mundo andei eu, pois, meu Deus! Meu Deus! estou perdido! perdido para sempre! E, atirando-se sobre um tamborete, que estava perto do mostrador, apertava convulsivamente a cabeça entre as mãos.
- Perdido por tão pouca coisa? por uns 70$000! o caso não é para tanto, meu amigo.
- Prouvera ao céu fosse só isso!... soluçou Elias com voz apenas inteligível.
- Como diz?... então não é só isso?...
Elias já não ouvia mais; estava aniquilado debaixo da nova e horrível catástrofe que acabava de fulminá-lo.
Traído em seu amor, vira na véspera derrocado em um momento o formoso castelo de suas esperanças, construído com tanto enlevo nos sonhos de dois anos de inquietações e trabalhos. Quando ia colocar a pedra do remate na cúpula do edifício, ei-lo que de súbito se desmorona até os fundamentos. Restava-lhe ainda a fortuna, consistente em algumas dezenas de contos, que à força de vontade, inteligência e atividade adquirira no Sincorá.
- De que me serve este dinheiro? - dizia ele na véspera. À força de muito querer e muito trabalhar eu o ganhei por amor de Lúcia e para Lúcia. Agora, que Lúcia me abandona, eu o veria queimar-se com a mesma impassibilidade com que vejo arder este cigarro.
Mas pensava o mancebo que de feito no outro dia, a uma só palavra, toda aquela riqueza ia esvaecer-se como o fumo! mas ah! no momento da catástrofe, essa impassibilidade com que contava também se esvaeceu em presença da cruel realidade.