Quase todo o dinheiro que trazia do Sincorá era falso; consistia em notas do mesmo padrão e valor daquelas que acabava de apresentar. Estava pobre como dantes. O rochedo, que acabava de conduzir até o cimo da montanha em dois longos anos de fadigas e perseverantes esforços, acabava de rolar no fundo dos abismos.
Era preciso ter na alma uma tríplice couraça de estoicismo para poder suportar impassível aqueles dois rudes golpes, desfechados um após outro pela mão da fatalidade. Elias, posto que não fosse das almas mais fracas, sentiu-se humilhado, acabrunhado e recalcado nesse antro de desesperação, para sair do qual só há uma porta - o suicídio.
Elias sentia viva necessidade de desabafar-se, de contar a alguém seus infortúnios; parecia-lhe que, se não o fizesse, se lhe rebentaria o coração.
Mas na Bagagem não tinha um só amigo de confiança a quem abrisse sua alma, a não ser o velho Simão. Esse, Elias não sabia por onde andava, e ninguém lhe poderia dar notícias dele. Tinha, pois, de concentrar em si mesmo a tempestade, que ameaçava romper-lhe o coração.
Todavia não lhe era possível dissimular a seu hóspede o horrível revés por que acabava de passar, vendo em um instante reduzida a fumo a fortuna que à força de tanto trabalho e perseverança tinha sabido adquirir, no espaço de pouco mais de ano.
Depois de ter reunido por algum tempo o fel de seu infortúnio, Elias chamou de parte o negociante, e contou-lhe como depois de ter tentado fortuna na Bagagem sem resultado algum, e vendo-se quase reduzido à miséria, partira para o Sincorá em companhia de um homem desconhecido, que o convidara. Chegando ali, esse homem com toda a franqueza e generosidade o protegeu e auxiliou, colocando-o à testa do trabalho de suas lavras, em cujos rendimentos lhe dava consideráveis interesses.