No fundo da sala, bem defronte da porta, viu sentada Lúcia com os olhos baixos e as feições um pouco abatidas, mas deslumbrante de beleza. O pudor e a comoção tinham-lhe acendido nas faces desbotadas pelo sofrimento uma ligeira cor, como a leve sombra de rosa, que lhe ondeava na alva garça do vestido.
Ao seu lado e meio voltado para ela, envolvendo- a de olhares ardentes e apaixonados, estava o feliz trovador, sustendo ainda nas mãos seu alaúde.
Apenas Elias fitou-o por um momento, reconheceu no noivo de Lúcia, quem?... o seu execrável protetor da Bahia, o moedeiro falso, o roubador de sua fortuna! O ladrão de sua felicidade era o mesmo ladrão de sua bolsa! Depois de lhe furtar o dinheiro no Sincorá, correra à Bagagem para roubar-lhe o coração de sua amante!... Sim, era ele; ele mesmo, que ali estava rico à custa de sua miséria, feliz à custa de seu infortúnio.
O primeiro impulso do coração do moço foi chegar-se a Leonel, arranca-lo pelo braço de junto da sua noiva, puxa-lo para o meio da casa, e dizendo-lhe:
- Ladrão, quero marcar-te na cara! imprimir-lhe nas faces uma bofetada.
Mas teve prudência bastante ainda para sopear aquele primeiro movimento.
Desviou os olhos dos dois noivos e procurou pela sala o Major. Descobriu-o logo bem perto da porta sentado junto a uma mesa, e dirigiu-se a ele.