O Garimpeiro - Cap. 10: X – A AFRONTA Pág. 81 / 147

Porta e corredor estavam atulhados de gente de toda a classe, que escutava o cantor. Apenas este se calou entre palmas e bravos, e o povo começou a mover-se e agitar-se, aproveitando-se do rebuliço geral, Elias, para não ser notado, envolveu-se na turba e foi-se encaminhando para a sala. Ao chegar porém ao limiar da porta, estacou de súbito, como se um relâmpago dando-lhe nos olhos lhe tivesse ofuscado a vista. O que vira ele?...

No fundo da sala, bem defronte da porta, viu sentada Lúcia com os olhos baixos e as feições um pouco abatidas, mas deslumbrante de beleza. O pudor e a comoção tinham-lhe acendido nas faces desbotadas pelo sofrimento uma ligeira cor, como a leve sombra de rosa, que lhe ondeava na alva garça do vestido.

Ao seu lado e meio voltado para ela, envolvendo- a de olhares ardentes e apaixonados, estava o feliz trovador, sustendo ainda nas mãos seu alaúde.

Apenas Elias fitou-o por um momento, reconheceu no noivo de Lúcia, quem?... o seu execrável protetor da Bahia, o moedeiro falso, o roubador de sua fortuna! O ladrão de sua felicidade era o mesmo ladrão de sua bolsa! Depois de lhe furtar o dinheiro no Sincorá, correra à Bagagem para roubar-lhe o coração de sua amante!... Sim, era ele; ele mesmo, que ali estava rico à custa de sua miséria, feliz à custa de seu infortúnio.

O primeiro impulso do coração do moço foi chegar-se a Leonel, arranca-lo pelo braço de junto da sua noiva, puxa-lo para o meio da casa, e dizendo-lhe:

- Ladrão, quero marcar-te na cara! imprimir-lhe nas faces uma bofetada.

Mas teve prudência bastante ainda para sopear aquele primeiro movimento.

Desviou os olhos dos dois noivos e procurou pela sala o Major. Descobriu-o logo bem perto da porta sentado junto a uma mesa, e dirigiu-se a ele.





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