- Pois deveras não se lembra de mim, continuou Elias em voz alta; veja lá... olhe bem para minha cara.
- Não; de todo não me lembro; tenho má memória, e lido com tanta gente, replicou Leonel recobrando aos poucos sua seguridade habitual.
- Pois não se lembra de Elias, o seu amigo, o seu protegido do Sincorá?
- Elias!... resmungou o baiano como que forcejando por lembrar-se, não sei... talvez com um esforço de memória... no Sincorá!... conheci e protegi tanta gente lá.
Aquela fatuidade e arrogância, aquele desdenhoso esquecimento, fosse real ou fingido, fez perder de todo a paciência a Elias, que bradou com toda a força de seus pulmões:
- Diga antes, senhor Leonel, enganei e roubei lá tanta gente!
- Insolente! - gritou Leonel; - senhor major, este homem ou é um doido, ou está bêbado; se o não fizer desaparecer imediatamente daqui, retiro-me da sua casa para nunca mais voltar...
- Cala-te, ladrão, - bradou Elias; e, agarrando com mão de ferro o braço de Leonel, antes que ninguém pudesse estorvá-lo, em dois arrancos o arrastou para o meio da sala exclamando: - És um ladrão, e hei de marcar-te na cara!...
Imediatamente se ouviu o estalo de uma bofetada nas faces do baiano. Um punhal reluziu na mão deste; mas já ambos estavam cercados e separados por uma turba imensa.
- Que desaforo, senhor Major! - exclamava um; - isto não se tolera! Como admite em sua casa um doido destes!
- Prendam! prendam esse biltre, - bradava outro. - Se não é algum malvado, é algum doido, ou algum bêbado.
- Este rapaz noutro tempo mostrava ter juízo, dizia um terceiro, que conhecia Elias. Não sei como agora se lhe virou o miolo por esta maneira!... mande aferrolha-lo imediatamente; é um homem perigoso.