Amor de Perdição - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 103 / 145

– Meu pai – interrompeu Teresa – não posso continuar a ouvi--lo, porque me sinto mal. Dê-me licença… e vingue-se como puder. A minha glória neste longo martírio seria uma forca levantada ao lado da do assassino.

Teresa saiu da grade, deu alguns passos na direcção da sua cela, e encostou-se esvaída à parede. Correram a ampará-la sua tia e a criada, mas ela, afastando-as suavemente de si, murmurou:

– Não é preciso… Estou boa… Estes golpes dão vida, minha tia.

E caminhou sozinha a passos vacilantes.

Tadeu batia à porta do mosteiro com irrisório enfurecimento pancadas, umas após outras, com grande medo da porteira e outras madres, espantadas do insólito despropósito.

– Que é isso, primo? – disse a prelada com severidade.

– Quero cá fora Teresa.

– Como fora? Quem há-de lançá-la fora?!

– A senhora, que não pode aqui reter uma filha contra a vontade de seu pai.

– Isso assim é; mas tenha prudência, primo.

– Não há prudência nem meia prudência. Quero minha filha cá fora.

– Pois ela não quer ir?

– Não, senhora.

– Então, espere que por bons modos a convençamos a sair, porque não havemos de trazer-lha a rastos.

– Eu vou buscá-la, sendo preciso – redarguiu em crescente fúria. – Abram-me estas portas, que eu a trarei!

– Estas portas não se abrem assim, meu primo, sem licença superior. A regra do mosteiro não pode ser quebrantada para servir uma paixão desordenada. Tranquilize-se senhor! Vá descansar desse frenesi, e venha noutra hora combinar comigo o que for digno de todos nós.

– Tenho entendido! – exclamou o velho, gesticulando contra o ralo do locutório. – Conspiram todas contra mim! Ora descansem, que eu lhes darei uma boa lição. Fique a senhora abadessa sabendo que eu não quero que a minha filha receba mais cartas do matador, percebeu?

– Eu creio que Teresa nunca recebeu cartas de matadores, nem suponho que as receba de ora em diante.

– Não sei se sabe, nem se não. Eu vigiarei o convento. A criada, que está com ela, ponham-na fora, percebeu?

– Porquê? – redarguiu a prelada com enfado.





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