Amor de Perdição - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 70 / 145

Apeou Mariana defronte do mosteiro, e foi à portaria chamar a sua amiga Brito.

– Que boa moça! – disse o padre capelão, que estava no raro lateral da porta, praticando com a prioresa acerca da salvação das almas e de umas ancoretas de vinho do Pinhão que ele recebera naquele dia e do qual tinha engarrafado um almude para tonizar o estômago da prelada.

– Que boa moça! – tornou ele, com um olho nela e outro no raro, onde a ciumosa prioresa se estava remordendo.

– Deixe lá a moça, e diga quando há-de ir a servente buscar o vinho.

– Quando quiser, senhora prioresa; mas repare bem nos olhos, no feitio, naquele todo da rapariga!…

– Pois repare o senhor padre João – replicou a freira – que eu tenho mais que fazer.

E retirou-se com o coração malferido, e o queixo superior escorrendo lágrimas… de simonte.

– Donde é vossemecê? – disse brandamente o padre capelão.

– Sou da aldeia – respondeu Mariana.

– Isso vejo eu; mas de que aldeia é?

– Não me confesso agora.

– Mas não faria mal se se confessasse a mim, menina, que sou padre…

– Bem vejo.

– Que mau génio tem!…

– É isto que vê.

– Quem procura cá no convento?

– Já disse lá para dentro quem procuro.

– Mariana!, és tu?! Anda cá!

A moça fez uma cortesia de cabeça ao padre capelão, e foi ao locutório donde vinha aquela voz.

– Eu queria falar contigo em particular, Joaquina – disse Mariana.

– Eu vou ver se arranjo uma grade: espera aí.

O padre tinha saído do pátio, e Mariana, enquanto esperava, examinou, uma a uma, as janelas do mosteiro. Numa das janelas, através das reixas de ferro, viu ela uma senhora sem hábito.

– Será aquela? – perguntou Mariana ao seu coração, que palpitava – Se eu fosse amada como ela!…

– Sobe aquelas escadinhas, Mariana, e entra na primeira porta do corredor, que eu lá vou – disse Joaquina.

Mariana deu alguns passos, olhou novamente para a janela onde vira a senhora sem hábito, e repetiu ainda:

– Se eu fosse amada como ela!…





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