Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 6: CAPÍTULO II - PÁGINAS SÉRIAS DA MINHA VIDA Pág. 111 / 156

“Sr. Dr. Juiz de Direito!”, exclama ele, “o santuário da família não pode continuar à mercê destes esfoladores de reputações! A mulher casada treme no pedestal da sua virtude; o esposo honrado, num país de imprensa livre, anda como ovos em peneira; a virgem honesta é estrangulada no seu decoro, quando se embala no inocente berço das suas afectuosas aspirações aos sacratíssimos, direitos da maternidade. (Neste ponto, o escrivão do processo limpou as lágrimas ao lenço vermelho do tabaco.) Sr. Dr. Juiz de Direito, prossegue o Demóstenes, com os braços em arco e o rosto em lavaredas de transporte. Todos temos mulher e filhas, filhas estremecidas e esposas ternas. Que importa a inviolabilidade destas santas afeições, se a pena do foliculário, estilando o negro fel da calúnia, nos verte no coração a peçonha da desordem doméstica e nos expõe às vaias públicas?! Um marido vive em boa paz com a sua mulher: vem um refalsado escritor e diz-lhe: “A tua mulher é desleal!, tua mulher roubou-te os doces mimos!” Horrível, Sr. Dr. Juiz de Direito!, horrível! Desde este momento a paz da família é como diz Job; o esposo tornou-se a fábula do povo; e a esposa, maculada sem mácula, aí fica infamada em si e na sua posteridade, por todos os séculos dos séculos! O cidadão probo e laborioso, se pensa que a honradez da sua vida o há de escoar dos tiros da calúnia, engana-se.

Aqui está o exemplo palpitante da atualidade. O Dr. Anselmo Sanches alcançou o quadragésimo ano da sua existência, sem que o ódio ou a inveja lho denegrisse com a baba pestilente da aleivosia. Todas as famílias se honraram de o terem na sua confiança. Em todas as casas honestas ele tem tido acesso como amigo, como irmão e como brasão das virtudes familiares em que ele é conselheiro, e baluarte, sem rebuço o digo, e baluarte -, hei de chamar-lhe sem lisonja baluarte, paládio sancta sactorum , das virtudes das famílias suas relacionadas.





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