- Apanha as velas ao discurso, que não há tempo - atalhou o meu amigo.
- Vamos à Felícia, e lá veremos. Se tiverem ares de se amarem como nos romances, a minha misericórdia administrativa velará o escândalo.
Fomos à estalagem. Eram nove horas da noite.
A Sra. Felícia, interrogada pela autoridade, revelou que tinha na sua casa, há dois dias e duas noites, um sujeito e uma senhora, que se diziam casados e nunca saíam do seu quarto. Ordenou o administrador que os fosse chamar à sala, em observância de uma ordem da autoridade.
Meia hora depois entrou na sala o sujeito e a dama. Céus! Expedi do peito involuntariamente um ai agudíssimo, levei as mãos aos olhos e caí numa cadeira, que ia caindo comigo.
Era Paula! Oh!... Paula!
Reinou profundo silêncio alguns minutos na sala. Quando me recobrei do espasmo, ergui-me e saí, sem encarar na desgraçada.
***
Na desgraçada - disse eu!... Que adjetivos tão tolos tem a nossa boa-fé para adaptar a certas mulheres que trazem a desgraça e a opinião pública sovada aos pés!
O meu amigo, voltando às onze horas da noite, achou-me febril, e assistiu- me até à madrugada com todos os recursos da medicina.
No dia seguinte, sossegando o pulso, contou-me assim o seguinte da diligência:
- Declarou Paula de Albuquerque que não era raptada e seguira de muito sua livre vontade aquele homem, que amava e com queria casar. O homem que ela seguia declarou ser irmão do padre-capelão da casa da menina e mestre-escola régio nos arrabaldes de Lisboa.