O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 221 / 414

Ai! Não estou nada contente, nada contente!

- Pois olhe que por lá também há desgosto grande - disse, baixando a voz, a do xale de quadrados.

Os dois homens aproximaram-se.

- O senhor - continuou ela com gestos aterrados - é um desaforo com a cunhada!... A senhora sabe, e aquilo são questões de dia e de noite! As duas irmãs andam numa bulha pegada. O homem toma as dores da rapariga; a mulher põe-se aos gritos... Ai! Aquilo vem a acabar mal!

- E então se a gente tem lá o seu descuido - disse o da gravata branca com indignação - é aqui del rei, e daqui e dali!

- Lá a sua gente é sossegada, Sr. João - observou a picada das bexigas.

- É boa gente. As raparigas namoradeiras... Proveito das criadas, apanham o seu vestido, a sua placa... Mas os velhotes é uma santa gente, a verdade é a verdade! E come-se bem!

E voltando-se para o trintanário, batendo-lhe no ombro, com uma voz que o admirava e que o invejava:

- Mas isto sim! Isto é que é levá-la! O rapazola sorriu com satisfação:

- Ora! São mais as vozes do que as nozes!

- Vá lá, mostra lá - disse o da gravata branca tocando-lhe com o cotovelo -, mostra lá!

O rapaz fez-se rogado, e depois de gingar da cintura, arregaçando a blusa, tirou do bolso do colete de riscadinho um relógio de ouro.

- Muito bonito! Rica prenda! - disseram as duas mulheres.

- Suor do meu rosto - fez ele, acariciando o queixo.

O da gravata branca indignou-se:

- Ora seu maroto! - E baixo para as raparigas: - Suor do seu rosto, hem! - É o serafim da patroa, uma senhora da alta que aquilo são tudo sedas, muitíssimo boa mulher, um bocado entradota, mas muitíssimo boa mulher; recebe destas lembranças, um relógio de um par de moedas - e ainda fala!

O rapazola disse então, enterrando as mãos na algibeira:

- E se quiser agora, há de largar a corrente!

- Há de lhe custar muito! - exclamou o da gravata branca.





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