- Bem, bem, eu arranjarei - disse Luísa com uma voz paciente.
E pagou a esteira, sem dizer nada a Jorge. Mas na manhã em que os esteireiros a pregavam, Jorge veio perguntar atônito a Luísa o que era aquilo, rolos de esteira no corredor?"
Ela pôs-se a rir; pousou-lhe as mãos sobre os ombros:
- Foi a pobre Juliana que pediu como uma esmola a esteira, que o soalho estava podre. Até a queria pagar, e que eu lha descontasse nas soldadas. Ora por uma ridicularia... - E com um gesto compassivo: - Também são criaturas de Deus; não são escravas, filho!
- Magnífico! E que não tardem os espelhos e os bronzes! Mas que mudança foi essa, tu que a não podias ver?
- Coitada! - fez Luísa - reconheci que era boa mulher. E como estive tão só, dei-me mais com ela. Não tinha com quem falar; fez-me muita companhia. Até quando estive doente...
- Estiveste doente? - exclamou Jorge espantado.
- Oh! Três dias, só - acudiu ela - uma constipação. Pois olha que dia e noite não se tirou de ao pé de mim.
Luísa ficou com receio que Jorge falasse na doença, e Juliana desprevenida negasse, por isso, nessa tarde, ao escurecer chamou-a ao quarto:
- Eu disse ao Sr. Jorge que você me tinha feito muito boa companhia na doença... - E o seu rosto abrasava-se de vergonha.
Juliana logo, risonha, contente da cumplicidade:
- Fico entendida, minha senhora! Pode estar sossegada!
Com efeito Jorge, ao outro dia, depois do café, voltou-se para Juliana, e com bondade:
- Parece que você fez boa companhia à Sra. Luísa.
- Fiz o meu dever - exclamou, curvando-se com a mão no peito.
- Bem, bem - fez Jorge, remexendo no bolso. E ao sair da sala meteu na mão meia libra.
- Palerma! - rosnou ela.
Foi nessa semana que começou a queixar-se à Luísa, que a roupa e os vestidos, na arca, se lhe amarfanhavam.