O Primo Basílio - Cap. 3: CAPÍTULO III Pág. 48 / 414

- A senhora D. Luísa está em casa?

Voltou-se. Nos últimos degraus da escada estava um sujeito, que lhe pareceu estrangeirado. Era trigueiro, alto, tinha um bigode pequeno levantado, um ramo na sobrecasaca azul, e o verniz dos seus sapatos resplandecia.

- A senhora vai sair - disse ela olhando-o muito. - Faz favor de dizer quem é?

O indivíduo sorriu.

- Diga-lhe que é um sujeito para um negócio. Um negócio de minas.

Luísa, diante do toucador, já de chapéu, metia numa casa do corpete dois botões de rosa-chá.

- Um negócio! - disse muito surpreendida. - Deve ser algum recado para o Sr. Jorge, decerto! Mande entrar. Que espécie de homem é?

- Um janota!

Luísa desceu o véu branco, calçou devagar as luvas de peau de suède claras, deu duas pancadinhas fofas ao espelho na gravata de renda, e abriu a porta da sala. Mas quase recuou; fez "ah!" toda escarlate. Tinha-o reconhecido logo. Era o primo Basílio.

Houve um shake-hands demorado, um pouco trémulo. Estavam ambos calados: - ela com todo o sangue no rosto, um sorriso vago; ele fitando-a muito, com um olhar admirado. Mas as palavras, as perguntas vieram logo, muito precipitadamente: - Quando tinha ele chegado? Se sabia que ele estava em Lisboa? Como soubera a morada dela?

Chegara na véspera no paquete de Bordéus. Perguntara no ministério; disseram4he que Jorge estava no Alentejo, deram-lhe a adresse...

- Como tu estás mudada, Santo Deus!

- Velha.

- Bonita!

- Ora!

E ele, que tinha feito? Demorava-se?

Foi abrir uma janela, dar uma luz larga, mais clara. Sentaram-se. Ele no sofá muito languidamente; ela ao pé, pousada de leve à beira de uma poltrona, toda nervosa.

Tinha deixado o "degredo" - disse ele. - Viera respirar um pouco à velha Europa.





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