E arregaçou-as realmente, mostrando a ceroula, num gesto brusco e de delírio.
- Pois quando encontrares enxurros desses, gritou-lhe o Ega, agacha-te e bebe-os! Dão-te sangue e força ao lirismo!
Mas Alencar, sem o ouvir, berrava para os outros, esmurrando o ar:
- Eu, se esse Craveirete não fosse um raquítico, talvez me entretivesse a rolá-lo aos pontapés por esse Chiado abaixo, a ele e à versalhada, a essa lambisgonhice excrementícia com que seringou Satanás! E depois de o besuntar bem de lama, esborrachava-lhe o crânio!
- Não se esborracham assim crânios, disse de lá o Ega num tom frio de troça.
Alencar voltou para ele uma face medonha. A cólera e o cognac incendiavam-lhe o olhar; todo ele tremia:
- Esborrachava-lhos, sim, esborrachava, João da Ega! Esborrachava-lhos assim, olha, assim mesmo! - Rompeu a atirar patadas ao soalho, abalando a sala, fazendo tilintar cristais e louças. - Mas não quero, rapazes! Dentro daquele crânio só há excremento, vomito, pus, matéria verde, e se lho esborrachasse, por que lho esborrachava, rapazes, todo o miolo podre saía, empestava a cidade, tínhamos a cólera! Irra! Tínhamos a peste!
Carlos, vendo-o tão excitado, tomou-lhe o braço, quis acalmá-lo:
- Então, Alencar! Que tolice... Isso vale lá pena!...
O outro desprendeu-se, arquejante, desabotoou a sobrecasaca, soltou o último desabafo:
- Com efeito, não vale a pena ninguém zangar-se por causa desse Craveirote da Ideia nova, esse caloteiro, que se não lembra que a porca da irmã é uma meretriz de doze vinténs em Marco de Canavezes!
- Não, isso agora é de mais, pulha! gritou Ega, arremessando-se, de punhos fechados.
Cohen e Dâmaso, assustados, agarraram-no. Carlos puxara logo para o vão da janela o Alencar que se debatia, com os olhos chamejantes, a gravata solta.