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Capítulo 6: Capítulo 6

Página 152
Tinha caído uma cadeira; a correcta sala, com os seus divãs de marroquim, os seus ramos de camélias, tomava um ar de taverna, numa bulha de faias, entre a fumaraça de cigarros. Dâmaso, muito pálido, quase sem voz, ia de um a outro:

- Oh meninos, oh meninos, aqui, no Hotel Central! Jesus!... Aqui no Hotel Central!...

E, de entre os braços do Cohen, Ega berrava, já rouco:

- Esse pulha, esse covarde... Deixe-me, Cohen! Não, isso hei de esbofeteá-lo!... A D. Ana Craveiro, uma santa!... Esse caluniador... Não, isso hei de esganá-lo!...

Craft, no entanto, impassível, bebia aos golos a sua chartreuse. Já presenciara, mais vezes, duas literaturas rivais engalfinhando-se, rolando no chão, num latir de injúrias: a torpeza do Alencar sobre a irmã do outro fazia parte dos costumes de crítica em Portugal: tudo isso o deixava indiferente, com um sorriso de desdém. Além disso sabia que a reconciliação não tardaria, ardente e com abraços. E não tardou. Alencar saiu do vão da janela, atrás de Carlos, abotoando a sobrecasaca, grave e como arrependido. A um canto da sala, Cohen falava ao Ega com autoridade, severo, à maneira de um pai: depois voltou-se, ergueu a mão, ergueu a voz, disse que ali todos eram cavalheiros: e como homens de talento e de coração fidalgo os dois deviam abraçar-se...

- Vá, um shake-hands, Ega, faça isso por mim!... Alencar, vamos, peço-lho eu!

O autor de Elvira deu um passo, o autor das Memórias de um Átomo estendeu a mão: mas o primeiro aperto foi gôche e mole. Então Alencar, generoso e rasgado, exclamou que entre ele e o Ega não devia ficar uma nuvem! Tinha-se excedido... fora o seu desgraçado génio, esse calor de sangue, que durante toda a existência só lhe trouxera lágrimas! E ali declarava bem alto que Ana Craveiro era uma santa! Tinha-a conhecido em Marco de Canavezes, em casa dos Peixotos... Como esposa, como mãe, Ana Craveiro era impecável. E reconhecia, do fundo de alma, que o Craveiro tinha carradas de talento!...

Encheu um copo de Champagne, ergueu-o alto, diante do Ega, como um cálice de altar:

- À tua, João!

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 152

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605