- Passaram-se cenas com esta Susana! murmurou ele depois de um silêncio em que estivera catando películas nos beiços.
E, com um suspiro, retomou o Fígaro. Houve outra vez um silêncio no terraço. Dentro, a partida continuava. Para lá da sombra do toldo, agora, o sol ia aquecendo, batendo a pedra, os vasos de louça branca, numa refracção de ouro claro em que palpitavam as azas das primeiras borboletas voando em redor dos craveiros sem flor: em baixo, o jardim verdejava, imóvel na luz, sem um bulir de ramo, refrescado pelo cantar do repuxo, pelo brilho líquido da água do tanque, avivado, aqui e além, pelo vermelho ou o amarelo das rosas, pela carnação das últimas camélias... O bocado de rio que se avistava entre os prédios era azul ferrete como o céu: e entre rio e céu o monte punha uma grossa barra verde-escura, quase negra no resplendor do dia, com os dois moinhos parados no alto, as duas casinhas alvejando em baixo, tão luminosas e cantantes que pareciam viver. Um repouso dormente de domingo envolvia o bairro: e, muito alto, no ar, passava o claro repique de um sino.
- O duque de Norfolk chegou a Paris, disse Dâmaso num tom entendido e traçando a perna. O duque de Norfolk é chic, não é verdade, ó Carlos?
Carlos, sem erguer os olhos, lançou para os céus um gesto, como exprimindo o infinito do chic!
Dâmaso largara o Fígaro para meter um charuto na boquilha; depois desapertou os últimos botões do colete, deu um puxão à camisa para mostrar melhor a marca que era um S enorme sob uma coroa de conde, e de pálpebra cerrada, com o beiço trombudo, ficou mamando gravemente a boquilha...
- Tu estás hoje em beleza, Dâmaso, disse-lhe Carlos que deixara também a Revista e o contemplava com melancolia.