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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 222
O costumier com um fato do século XIV manda um sabre da guarda municipal; por seu lado o ministro, a propósito de impostos, cita as Meditações de Lamartine; e o literato, essa besta suprema...

Mas calou-se, vendo a espada que Carlos trazia na mão, uma folha do século XVI, de grande têmpera, fina e vibrante, com copos trabalhado como uma renda - e tendo gravado no aço o nome ilustre do espadeiro, Francisco Ruy de Toledo.

Embrulhou-a logo num jornal, recusou à pressa o almoço que lhe ofereciam, deu dois vivos shake-hands, atirou o chapéu para a nuca, ia abalar, quando a voz de Afonso o deteve:

- Ouve la, John, dizia o velho alegremente, isso é uma espada cá da casa, que nunca brilhou sem glória, creio eu... Vê como te serves dela!

Ao pé do reposteiro, Ega voltou-se, exclamou, apertando contra o peito do paletó o ferro, enrolado no Jornal do Comercio:

- Não a sacarei sem justiça, nem a embainharei sem honra. Au revoir!

- Que vida, que mocidade! murmurou Afonso. Muito feliz é este John!... Pois vai-te arranjando filho, que já tocou a primeira vez para o almoço.

Carlos ainda se demorou um instante a reler, com um sorriso, a aparatosa carta do Gouvarinho; e ia enfim chamar o Baptista para se vestir, quando em baixo, à entrada particular, o timbre eléctrico começou a vibrar violentamente. Um passo ansioso ressoou na antecâmara, o Dâmaso apareceu esbaforido, de olho esgazeado, com a face em brasa. E, sem dar tempo a que Carlos exprimisse a surpresa de o ver enfim no Ramalhete, exclamou, lançando os braços ao ar:

- Ainda bem que te encontro, caramba! Quero que venhas daí, que me venhas ver um doente... Eu te explicarei... É aquela gente brasileira. Mas pelo amor de Deus, vem depressa, menino!

Carlos erguera-se, pálido:

- É ela?

- Não, é a pequena, esteve a morrer... Mas veste-te, Carlinhos, veste-te, que a responsabilidade é minha!

- É um bebé, não é?

- Qual bebé!... É uma pequena crescida, de seis anos... Anda daí!

Carlos, já em mangas de camisa, estendia o pé ao Baptista, que, com um joelho em terra, apressado também, quase fez saltar os botões da bota.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 222

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605