Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 9: Capítulo 9

Página 237
Carlos, sentado ao pé do fogão, aquecia os pés: e Craft veio acabar de ouvir o Ega, acomodando-se também na sua poltrona, do outro lado da chaminé, com o seu cachimbo na boca.

- Enfim, exclamou Ega, de pé, cruzando os braços, que me aconselhas tu agora?

- Tens a fazer só isto, disse Craft: esperar amanhã em casa que ele te mande os seus padrinhos... Que tenho a certeza que não manda... E depois, se vos baterdes, deixar-te ferir ou matar.

- Perfeitamente o que eu disse, murmurou Carlos, provando o seu grog.

Ega olhou-os a ambos, sucessivamente, petrificado. E logo, num fluxo de palavras desordenadas, queixou-se de não ter amigos.

Ali estava, naquela crise, a maior da sua vida: e em lugar de encontrar, nos seus camaradas de infância e de Coimbra, apoio, solidariedade, lealdade à tort et à travers, abandonavam-no, pareciam querer enterrá-lo, e expô-lo a irrisões maiores... Ia-se comovendo; os olhos vermelhejavam-lhe sob as lágrimas. E quando algum deles ia interrompê-lo, numa palavra de senso, batia o pé, persistia na sua teima - um desafio, matar o Cohen, vingar-se! Tinha sido insultado. Não existia outra coisa. Não se tinha falado na mulher. Era ele que devia primeiro mandar padrinhos, lavar a sua honra. Havia pessoas na sala, quando o outro o insultou. Havia um urso, e uma tirolesa... E enquanto a deixar-se varar por uma bala, não! Tinha mais direito a viver que o Cohen, que era um burguês, e um agiota... E ele era um homem de estudo e de arte! Tinha na cabeça livros, ideias, coisas grandes. Devia-se ao país, à civilização!... Se fosse ao campo, era para fazer a sua pontaria, e abater o Cohen, ali, como uma besta imunda...

- Mas o que é, é que não tenho amigos! gritou ele exausto por fim, caindo para o canto de um sofá.

Craft bebia em silêncio, e aos golos, o seu cognac.

Foi Carlos que se ergueu, sério e áspero. Ele não tinha direito de duvidar da sua amizade. Quando lhe tinha ela faltado? Mas era necessário não ser pueril, nem teatral... A questão estava simplesmente em que o Cohen o surpreendera, amando-lhe a mulher. Logo, podia matá-lo, podia entregá-lo aos tribunais, podia escavacá-lo na sala a pontapés...

<< Página Anterior

pág. 237 (Capítulo 9)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 237

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605