Os Maias - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 306 / 630

Melanie correu um reposteiro de linho cru, fê-lo entrar num quarto claro e fresco: e aí foi encontrar a pobre miss Sarah num leitozinho de ferro, sentada, com um laço de seda azul ao pescoço, e os bandós tão lisos, tão acamados pela escova, como se fosse sair num domingo para a capela presbiteriana. Na mesinha de cabeceira os seus jornais ingleses estavam escrupulosamente dobrados, junto de um copo com duas belas rosas; e tudo no quarto resplandecia de severo arranjo, desde os retratos da família real d'Inglaterra, expostos sobre a toalha de renda que cobria a cómoda, até às suas botinas bem engraxadas, classificadas, perfiladas numa prateleira de pinho.

Apenas Carlos se sentou, ela imediatamente, com duas rosetas de vergonha na face, entre frouxos de tosse, declarou que não tinha nada. Era a senhora, tão boa, tão cautelosa, que a forçara a meter-se na cama... E para ela era um desgosto ver-se ali ociosa, inútil, agora que Madame estava tão só, numa casa sem jardim. Onde havia a menina de brincar? Quem havia de sair com ela? Ah! Era uma prisão para Madame!...

Carlos consolava-a, tomando-lhe o pulso. Depois, quando ele se ergueu para a auscultar, a pobre miss cobriu-se toda num rubor afeito, apertando mais a roupa contra o peito, querendo saber se era absolutamente necessário... Sim, decerto, era necessário... Achou-lhe o pulmão direito um pouco tomado; e, em quanto a agasalhava, fez-lhe algumas perguntas sobre a sua família. Ela contou que era de York, filha de um clergyman, e tinha catorze irmãos: os rapazes estavam na Nova Zelândia, e todos eram de uma robustez de atletas. Ela saíra a mais fraca; tanto que o pai, vendo que ela aos dezassete anos pesava só oito arrobas, ensinou-lhe logo latim, destinando-a para governante.

Em todo o caso, dizia Carlos, nunca houvera na sua família doenças de peito? Ela sorriu. Oh! nunca! A mamã ainda vivia. O papá, já muito velho, morrera do coice de uma égua.

Carlos, no entanto, pó de pé, com o chapéu na mão, continuava a observá-la, reflectindo. Então, de repente, sem motivo, ela enterneceu-se, os seus olhos pequeninos enevoaram-se de água.





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