Quando chegou à mesa do almoço Craft e Afonso, já sentados, falavam justamente do Gouvarinho, e dos artigos que ele continuava gravemente a publicar no Jornal do Comercio.
- Que besta essa! exclamou Carlos numa voz que sibilava, desabafando sobre a literatura política do marido a cólera que lhe davam as importunidades amorosas da mulher.
Afonso e Craft olharam-no, pasmados de tanta violência. E Craft censurou-lhe a ingratidão. Porque, realmente, não havia em toda a terra um entusiasmo como o que aquele desventuroso homem de Estado tinha por Carlos...
- V. Ex.ª não faz ideia, Sr. Afonso da Maia. É um culto. É uma idolatria!
Carlos encolhia os ombros, impaciente. E Afonso, já bem-disposto para com o homem que assim admirava tão prodigamente o seu neto, murmurou com bondade:
- Coitado, suponho que é inofensivo...
Craft fez uma ovação ao velho:
- Inofensivo! Admirável, Sr. Afonso da Maia! Inofensivo, aplicado a um homem de Estado, a um par, a um ministro, a um legislador, é um achado! E é com efeito o que ele é, inofensivo... E é o que eles são...
- Chablis? murmurou o escudeiro.
- Não, tomo chá.
E acrescentou:
- Aquele champagne que ontem bebemos nas corridas, por patriotismo, arrasou-me... Tenho de me pôr uma semana a regímen de leite.
Então falou-se ainda das corridas, dos ganhos de Carlos, do Cliford, e do véu azul do Dâmaso.
- Ora quem estava ontem muito bem vestida era a Gouvarinbo, disse Craft remexendo o seu chá. Ficava-lhe admiravelmente aquele branco creme, tocado de tons negros.