Os Maias - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 381 / 630

- Aquela horrível cabeça! murmurou ela.

Carlos arrancou a coberta do leito, escondeu a tela sinistra. E então todo o rumor se extinguiu, a solitária casa ficou adormecida entre as árvores, numa demorada sesta, sob a calma de julho...

Os anos de Afonso da Maia foram justamente no dia seguinte, domingo. Quase todos os amigos da casa tinham jantado no Ramalhete; e tomara-se o café no escritório de Afonso, onde as janelas se conservavam abertas. A noite estava tépida, estrelada e sereníssima. Craft, Sequeira e o Taveira passeavam fumando no terraço. Ao canto de um sofá Cruges escutava religiosamente Steinbroken que lhe contava, com gravidade, os progressos da música na Finlândia. E em redor de Afonso, estendido na sua velha poltrona, de cachimbo na mão, falava-se do campo.

Ao jantar Afonso anunciara a intenção de ir visitar, para o meado do mês, as velhas árvores de Santa Olávia; e combinara-se logo uma grande romaria de amizade às margens do Douro. Craft e Sequeira acompanhavam Afonso. O marquês prometera uma visita para agosto «na companhia melodiosa», dizia ele, do amigo Steinbroken. D. Diogo hesitava, com receio da longa jornada, da humidade da aldeia. E agora tratava-se de persuadir Ega a ir também, com Carlos - quando Carlos acabasse enfim de reunir esses materiais do seu livro que o retinham em Lisboa «á banca do labor...» Mas o Ega resistiu. O campo, dizia ele, era bom para os selvagens. O homem, à maneira que se civiliza, afasta-se da natureza; e a realização do progresso, o paraíso na Terra, que pressagiam os Idealistas, concebia-o ele como uma vasta cidade ocupando totalmente o Globo, toda de casas, toda de pedra, e tendo apenas aqui e além um bosquezinho sagrado de roseiras, onde se fossem colher os ramalhetes para perfumar o altar da Justiça...

- E o milho? A bela fruta? A hortaliçazinha? perguntava Vilaça, rindo com malicia.

Imaginava então Vilaça, replicava o outro, que daqui a séculos ainda se comeriam hortaliças? O hábito dos vegetais era um resto da rude animalidade do homem.





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