Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 2: Capítulo 2

Página 39
Os olhos enchiam-se-lhe de uma bela luz de ternura; parecia esquecer a agonia do filho, a vergonha domestica; agora só havia ali aquela facezinha tenra, que se lhe babava nos braços...

- Como se chama ele?

- Carlos Eduardo, murmurou a ama.

- Carlos Eduardo, hein?

Ficou a olha-lo muito tempo, como procurando nele os sinais da sua raça: depois tomou-lhe na sua as duas mãozinhas vermelhas

que não largavam o guiso, e muito grave, como se a criança o percebesse, disse-lhe:

- Olha bem para mim. Eu sou o avô. É necessário amar o avô!

E àquela forte voz, o pequeno, com efeito, abriu os seus lindos olhos para ele, sérios de repente, muito fixos, sem medo das barbas grisalhas: depois rompeu a pular-lhe nos braços, desprendeu a mãozinha, e martelou-lhe furiosamente a cabeça com o guiso.

Toda a face do velho sorria àquela viçosa alegria; apertou-o ao seu largo peito muito tempo, pôs-lhe na face um beijo longo, consolado, enternecido, o seu primeiro beijo de avô; depois, com todo o cuidado, foi colocá-lo nos braços da ama.

- Vá, ama, vá... A Gertrudes já lá anda a arranjar-lhe o quarto, vá ver o que é necessário.

Fechou a porta, e veio sentar-se junto do filho que se não movera do canto do sofá, nem despregara os olhos do chão.

- Agora desabafa, Pedro, conta-me tudo... Olha que nos não vemos há três anos, filho...

- Há mais de três anos, murmurou Pedro.

Ergueu-se, alongou a vista à quinta, tão triste sob a chuva; depois, derramando-a morosamente pela livraria, considerou um momento o seu próprio retrato, feito em Roma aos doze anos, todo de veludo azul, com uma rosa na mão. E repetia ainda amargamente:

- Tinha razão, meu pai, tinha razão...

E pouco a pouco, passeando e suspirando, começou a falar daqueles últimos anos, o inverno passado em Paris, a vida em Arroios, a intimidade do italiano na casa, os planos de reconciliação, por fim aquela carta infame, sem pudor, invocando a fatalidade, arremessando-lhe o nome do outro!... No primeiro momento tivera só ideias de sangue e quisera persegui-los. Mas conservava um clarão de razão. Seria ridículo, não é verdade?

<< Página Anterior

pág. 39 (Capítulo 2)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 39

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605