Davam duas horas; e começavam logo nos quartos de cima as longas lições de Rosa. Carlos e Maria iam então refugiar-se numa intimidade mais livre, no quiosque japonês, que uma fantasia de Craft, o seu amor do Japão, construíra ao pé da rua de acácias, aproveitando a sombra e o retiro bucólico de dois velhos castanheiros. Maria afeiçoara-se àquele recanto, chamava-lhe o seu pensadoiro. Era todo de madeira, com uma só janelinha redonda, e um telhado agudo à japonesa, onde roçavam os ramos - tão leve que através dele nos momentos de silêncio se sentiam piar as aves. Craft forrara-o todo de esteiras finas da Índia; uma mesa de charão, algumas faianças do Japão, ornavam-no sobriamente; o tecto não se via, oculto por uma colcha de seda amarela, suspensa pelos quatro cantos, em laços, como o rico dossel de uma tenda; - e todo o ligeiro quiosque parecia ter sido armado só com o fim de abrigar um divã baixo e fofo, de uma languidez de serralho, profundo para todos os sonhos, amplo para todas as preguiças...
Eles entravam, Carlos com algum livro que escolhera na presença de miss Sarah, Maria Eduarda com um bordado ou uma costura. Mas bordado e livro caíam logo no chão - e os seus lábios, os seus braços uniam-se arrebatadamente. Ela escorregava sobre o divã:
Carlos ajoelhava numa almofada, trémulo, impaciente depois da forçada reserva diante de Rosa e diante de Sarah - e ali ficava, abraçado à sua cintura, balbuciando mil coisas pueris e ardentes, por entre longos beijos que os deixavam frouxos, com os olhos cerrados, numa doçura de desmaio. Ela queria saber o que ele tinha feito durante a longa, longa noite de separação.