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- Mas a respeito de Santa Olávia temos a falar mais seriamente, disse por fim Craft, entrando na alcova, a ensaboar a cabeça.
- E tu, perguntou então Carlos, voltando-se para o Eusebiozinho. Tens estado em Sintra, hein? Que se faz lá?... O Ega?
O outro ergueu-se guardando o canivete, ajeitando as lunetas.
- Lá está no Victor, muito engraçado, comprou um burro... Lá está o Dâmaso também... Mas esse pouco se vê, não larga os Cohens... Enfim tem-se passado menos mal, com bastante calor...
- Tu estavas outra vez com a mesma prostituta, a Lola?
Eusebiozinho fez-se escarlate. Credo! estava no Victor, muito sério! O Palma é que lá tinha aparecido com uma rapariga portuguesa... Tinha agora um jornal, A Corneta do Diabo.
- A Corneta...?
- Sim, do Diabo, disse o Eusebiozinho. É um jornal de pilherias, de picuinhas... Ele já existia, chamava-se o Apito; mas agora passou para o Palma; ele vai-lhe aumentar o formato, e meter-lhe mais chalaça...
- Enfim, disse Carlos, qualquer coisa sebácea e imunda como ele...
Craft reapareceu, enxugando a cabeça. E enquanto se vestia, falou de uma viagem que agora o tentava, que estivera planeando em Santa Olávia. Como já não tinha a Toca, e a sua casa ao pé do Porto necessitava longas obras, ia passar o inverno ao Egipto, subindo o Nilo, em comunicação espiritual com a antiguidade Faraónica. Depois talvez se adiantasse até Bagdad, a ver o Eufrates, e os sítios de Babilónia...
- Por isso eu lhe vi ali, na mesa, exclamou Carlos, um livro, Nínive e Babilónia... Que diabo, você gosta disso? Eu tenho horror a raças e a civilizações defuntas... Não me interessa senão a Vida.
- É que você é um sensual, disse Craft. E a propósito de sensualidade e de Babilónia, quer vir você almoçar ao Bragança? Eu tenho de lá encontrar um inglês, o meu homem das minas... Mas havemos de ir pela rua do Ouro, que quero trepar um instante à caverna do meu procurador... E a caminho, que é meio-dia!
Deixaram o Eusebiozinho, em baixo na sala, ajeitando as suas lúgubres lunetas negras diante dos telegramas.