Os Maias - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 410 / 630

Era Baptista que os servia, já com um fato claro de viagem. A mesa, redonda e pequena, parecia uma cesta de flores; o champagne gelava dentro dos baldes de prata; no aparador a travessa de arroz doce tinha as iniciais de Maria.

Aqueles lindos cuidados fizeram-na sorrir, enternecida. Depois reparou no retrato de Pedro da Maia: e interessou-se, ficou a contemplar aquela face descorada, que o tempo fizera lívida, e onde pareciam mais tristes os grandes olhos de árabe, negros e lânguidos.

- Quem é? perguntou.

- É meu pai.

Ela examinou-o mais de perto, erguendo uma vela. Não achava que Carlos se parecesse com ele. E voltando-se muito séria, enquanto Carlos desarrolhava com veneração uma garrafa de velho Chambertin:

- Sabes tu com quem te pareces às vezes?... É extraordinário, mas é verdade. Pareces-te com minha mãe!

Carlos riu, encantado de uma parecença que os aproximava mais, e que o lisonjeava.

- Tens razão, disse ela, que a mamã era formosa... Pois é verdade, há um não sei quê na testa, no nariz... Mas sobretudo certos jeitos, uma maneira de sorrir... Outra maneira que tu tens de ficar assim um pouco vago, esquecido... Tenho pensado nisto muitas vezes...

Baptista entrava com uma terrina de louça do Japão. E Carlos, alegremente, anunciou um jantar à portuguesa. Mr. Antoine, o chef francês, fora com o avô. Ficara a Michaela, outra cozinheira de casa, que ele achava magnifica, e que conservava a tradição da antiga cozinha freirática do tempo do Sr. D. João V.

- Assim, para começar, minha querida Maria, aí tens tu um caldo de galinha, como só se comia em Odivelas, na cela da madre Paula, em noites de noivado místico...

E o jantar foi encantador. Quando Baptista se retirava, eles apertavam-se rapidamente a mão por cima das flores. Nunca Carlos a achara tão linda, tão perfeita: os seus olhos pareciam-lhe irradiar uma ternura maior: na singela rosa que lhe ornava o peito via a superioridade do seu gosto.





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