Os Maias - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 432 / 630

E depois era tarde, já não se atrevera a confessar, toda enterrada assim na mentira, com medo do desgosto...

Mas, exclamava Carlos, nunca imaginara ela que fatalmente tudo se descobriria um dia?

- Je ne sais pas, monsieur, je ne sais pas, murmurou Melanie quase a chorar.

Depois eram outras curiosidades. Ela não esperava Castro Gomes? não supunha que ele voltasse? não costumava falar dele?...

- Oh non, monsieur, oh non!

Madame, desde que o senhor começara a ir todos os dias à rua de S. Francisco, considerara-se para sempre desligada do Sr. Castro Gomes, nem falava nele, nem queria que se falasse... Antes disso a menina chamava sempre ao Sr. Castro Gomes petit ami.

Agora não lhe chamava nada. Tinham-lhe dito que já não havia petit ami...

- Ela escrevia-lhe ainda, dizia Carlos, eu sei que ela lhe escrevia...

Sim, Melanie julgava que sim... Mas cartas indiferentes. A senhora levara o seu escrúpulo a ponto de que, desde que viera para os Olivais, nunca mais gastara um ceitil das quantias que lhe mandava o Sr. Castro Gomes. As letras para receber dinheiro conservava-as intactas, entregara-lhas nessa tarde... Não se lembrava ele de a ter encontrado uma manhã à porta do Montepio? Pois bem! fora lá, com uma amiga francesa, empenhar uma pulseira de brilhantes da senhora. A senhora vivia agora das suas joias; tinha já outras no prego.

Carlos parara, comovido. Mas então para que tinha ela mentido?

- Je ne sais pas, dizia Melanie, je ne sais pas... Mais ele vous aime bien, alez!

Estavam defronte do portão. A tipoia esperava. E, ao fundo da rua de acácias, a porta da casa aberta deixava passar a luz do corredor, frouxa e triste. Carlos julgou ver mesmo a figura de Maria Eduarda, embrulhada numa capa escura, de chapéu, atravessar nessa claridade... Ouvira decerto rodar a carruagem. Que aflita paciência seria a sua!

- Vai-lhe dizer que vim, Melanie, vai! murmurou Carlos.





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