Acordou nestes urros de agonia: e a sua cólera contra o Dâmaso ressurgiu, mais nutrida pelas incoerências do sonho. Além disso chovia. E decidiu não voltar à Tarde, deixar imprimir a carta. Que importava, de resto, o que dissesse o Dâmaso? O artigo da Corneta estava extinto, o Palma bem pago. - E quem jamais acreditaria num homem que nos jornais se declara caluniador e bêbedo?
E Carlos assim pensou também - quando, depois do almoço, Ega lhe contou a sua resolução da véspera ao ver o Dâmaso no camarote, de olho trocista posto nele, a segredar com os Cohens...
- Percebi claramente, sem erro possível, que estava a falar de ti, da Sr.ª D. Maria, de nós todos, contando horrores... E então acabou-se, não hesitei mais. Era necessário deixar passar a justiça de Deus! Não tínhamos paz enquanto o não aniquilássemos!
Sim, concordou Carlos, talvez. Somente receava que o avô, sabendo o escândalo, se desgostasse de ver o seu nome misturado a toda aquela sordidez de Corneta e de bebedeira...
- Ele não lê a Tarde, acudiu Ega. O rumor, se lhe chegar, é já vago e desfigurado.
Com efeito Afonso soube apenas confusamente que o Dâmaso soltara no Grémio algumas palavras desagradáveis para Carlos, e declarara depois num jornal que, nesse momento, estava bêbedo. E a opinião do velho foi - que se o Dâmaso estava embriagado (e doutro modo como teria injuriado Carlos, seu antigo amigo?) a sua declaração revelava extrema lealdade e um amor quase heróico da verdade!
- Por esta não esperávamos nós! exclamou depois Ega no quarto de Carlos. O Dâmaso torna-se um justo!
De resto os amigos da casa, sem conhecer o artigo da Corneta aprovavam a aniquilação do Dâmaso.