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Capítulo 16: Capítulo 16

Página 519

- Que te parece, Thomaz?

- Faz nojo! rugiu surdamente o poeta.

Tremia, revoltado! Numa noite daquelas, toda de poesia, quando os homens de letras se deviam mostrar como são, filhos da democracia e da liberdade, vir aquele pulha pôr-se ali a lamber os pés à família real... Era simplesmente ascoroso!

Lá na fundo, junto aos degraus do tablado, ia um tumulto de abraços, de comprimentos, em torno do Rufino, que reluzia todo de orgulho e suor. E pela porta os homens escoavam-se, afogueados, comovidos ainda, puxando das charuteiras. Então o poeta travou do braço do Ega:

- Ouve lá, eu vinha justamente procurar-te. É o Guimarães, o tio do Dâmaso, que me pediu para te ser apresentado... Diz que é uma coisa séria, muito séria... Está lá em baixo no botequim, com um grog.

Ega pareceu surpreendido... Coisa séria!?

- Bem, vamos nós lá abaixo tomar também um grog! E que recitas tu logo, Alencar?

- A Democracia, foi dizendo o poeta pela escada, com certa reserva. Uma coisita nova, tu verás... São algumas verdades duras a toda essa burguesia...

Estavam à porta do botequim - e precisamente o Sr. Guimarães saía, com o chapéu sobre o olho, de charuto aceso, abotoando a sobrecasaca. Alencar lançou a apresentação, com imensa gravidade:

- O meu amigo João da Ega... O meu velho amigo Guimarães, um bravo cá dos nossos, um veterano da Democracia.

Ega acercou-se de uma mesa, puxou cortesmente um banco para o veterano da Democracia, quis saber se ele preferia cognac ou cerveja.

- Tomei agora o meu grog de guerra, disse o Sr. Guimarães com secura, tenho para toda a noite.

Um criado dava uma limpadela lenta sobre o mármore da mesa. Ega ordenou cerveja. E directamente, largando o charuto, passando a mão pelas barbas a retocar a majestade da face, o Sr. Guimarães começou com lentidão e solenidade:

- Eu sou tio do Dâmaso Salcede, e pedi aqui ao meu velho amigo Alencar para me apresentar a V. Ex.ª, com o fim de o intimar a que olhe bem para mim e que diga se me acha cara de bêbedo...

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 519

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605