Ega foi dali aos quartos de Carlos. As velas ardiam ainda nas serpentinas: um aroma errava de água de Lubin e charuto: e o Baptista disse-lhe que o Sr. D. Carlos «saíra havia dez minutos». fora para a rua de S. Francisco! Ia lá dormir! Então enervado, com a longa e triste noite diante de si, Ega teve um apetite de se atordoar, dissipar numa excitação forte as ideias que o torturavam. Não despedira a tipoia, abalou para S. Carlos. E findou por ir cear ao Augusto com o Taveira e duas raparigas, a Paca e a Carmen Filosofa, prodigalizando o champagne. às quatro da manhã estava bêbedo, estatelado sobre o sofá, gemendo sentimentalmente, só para si, as estrofes de Musset à Malibran... O Taveira e a Paca, juntinhos na mesma cadeira, ele com o seu ar terno de chulo, ela muy caliente também, debicavam copinhos de gelatina. E a Carmen Filosofa, empanturrada, desapertada, com o colete embrulhado já num Diário de Noticias, repicava a faca na borda do prato, cantarolando de olhos perdidos nos bicos de gaz:
Señor Alcalde mayor,No prenda usted los ladrones...
Acordou ao outro dia às nove horas, ao lado da Carmen Filosofa, num quarto de grandes janelas rasgadas por onde entrava toda a melancolia da escura manhã de chuva. E, enquanto não vinha a tipoia fechada que a servente correra a chamar, o pobre Ega enojado, vexado, com a língua pastosa, os pés nus sobre o tapete, reunindo o fato espalhado, tinha só uma ideia clara - fugir dali para um grande banho, bem perfumado e bem fresco, onde se purificasse numa sensação viscosa de Carmen e de orgia que o arrepiava.