- O que me vale agora são vocês, rapazes, a gente nova. Não me deitem à margem! Senão, caramba, quando quiser fazer uma visita tenho d'ir ao cemitério. Adeus, não apanhes frio!
O enterro foi ao outro dia, à uma hora. O Ega, o marquês, o Craft, o Sequeira levaram o caixão até à porta, seguidos pelo grupo de amigos, onde destacava o conde de Gouvarinho, soleníssimo, de grã-cruz. O conde de Steinbroken, com o seu secretario, trazia na mão uma coroa de violetas. Na calçada estreita os trens apertavam-se, numa longa fila que subia, se perdia pelas outras ruas, pelas travessas: em todas as janelas do bairro se apinhava gente: os polícias berravam com os cocheiros. Por fim o carro, muito simples, rodou, seguido por duas carruagens da casa, vazias, com as lanternas recobertas de longos véus de crepe que pendiam. Atrás, um a um, desfilaram os trens da Companhia com os convidados, que abotoavam os casacos, corriam os vidros contra a friagem do dia enevoado. O Darque e o Vargas iam no mesmo coupé. O correio do Gouvarinho passou choutando na sua pileca branca. E, sobre a rua deserta, cerrou-se finalmente para um grande luto o portão do Ramalhete.
Quando Ega voltou do cemitério encontrou Carlos no quarto, rasgando papeis, enquanto o Baptista, atarefado, de joelhos no tapete, fechava uma mala de couro. E como Ega, pálido e arrepiado de frio, esfregava as mãos, Carlos fechou a gaveta cheia de cartas,
lembrou que fossem para o fumoir onde havia lume.
Apenas lá entraram, Carlos correu o reposteiro, olhou para o Ega:
- Tens duvida em lhe ir falar, a ela?
- Não. Para que?... Para lhe dizer o que?
- Tudo.
Ega rolou uma poltrona para junto da chaminé, despertou as brasas.