- Olha o Gouvarinho! Vê lá se ele recebe às terças-feiras os seus correligionários...
Carlos que sorria, encantado com aquela veia acerba do Ega, saltou na cadeira:
- É verdade, e a Gouvarinho, a nossa boa Gouvarinho?
Ega, passeando pela sala, deu as novas dos Gouvarinhos. A condessa herdara uns sessenta contos de uma tia excêntrica que vivia a Santa Isabel, tinha agora melhores carruagens, recebia sempre às terças-feiras. Mas sofria uma doença qualquer, grave, no fígado ou no pulmão. Ainda elegante todavia, muito séria, uma terrível flor de pruderie... Ele, o Gouvarinho, aí continuava, palrador, escrevinhador, politicote, impertigadote, já grisalho, duas vezes ministro, e coberto de grã-cruzes...
- Tu não os viste em Paris, ultimamente?
- Não. Quando soube fui-lhes deixar bilhetes, mas tinham partido na véspera para Vichy...
A porta abriu-se, um brado cavo ressoou:
- Até que enfim, meu rapaz!
- Oh Alencar! gritou Carlos, atirando o charuto.
E foi um infinito abraço, com palmadas arrebatadas pelos ombros, e um beijo ruidoso - o beijo paternal do Alencar, que tremia, comovido. Ega arrastara uma cadeira, berrava pelo escudeiro:
- Que tomas tu, Thomaz? Cognac? Coração? Em todo o caso café! Mais café! Muito forte, para o Sr. Alencar!
O poeta, no entanto, abismado na contemplação de Carlos, agarrara-o pelas mãos, com um sorriso largo, que lhe descobria os dentes mais estragados. Achava-o magnifico, varão soberbo, honra da raça... Ah! Paris, com o seu espírito, a sua vida ardente, conserva...