Afonso da Maia deu um repelão à carta, menos enojado das torpezas da história, que daqueles lirismos relambidos.
E recomeçou a passear, enquanto o Vilaça recolhia religiosamente o documento que tinha relido muitas vezes, na admiração do sentimento, do estilo, do ideal daquela página.
- E a pequena? perguntou Afonso.
- Isso não sei. O Alencar não lhe falaria na filha, nem ele mesmo sabe que ela a levou. Ninguém o sabe em Lisboa. Foi um detalhe que passou desapercebido no grande escândalo. Mas enquanto a mim, a pequena morreu. Senão, siga V. Ex.ª o meu raciocínio... Se a menina fosse viva, a mãe podia reclamar a legitima que cabe à criança... Ela sabe a casa que V. Ex.ª tem; há de haver dias, e são frequentes na vida dessas mulheres, em que lhe falte uma libra... Com o pretexto da educação da menina, ou de alimentos, já nos tinha importunado... Escrúpulos não tem ela. Se o não faz é que a filha morreu. Não lhe parece a V. Ex.ª?
- Talvez, disse Afonso.
E acrescentou, parando diante de Vilaça - que olhava outra vez a brasa morta tirando estalinhos dos dedos:
- Talvez... Suponhamos que morreram ambas, e não se fale mais nisso.
Estava dando meia noite, os dois homens recolheram-se. E durante os dias que Vilaça passou em Sta. Olávia não se proferiu mais o nome de Maria Monforte.