O Processo - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 152 / 183

Block respondera imediatamente ao chamamento, se bem que hesitasse à entrada da porta, aparentemente na dúvida se devia ou não entrar. Ergueu as sobrancelhas e levantou a cabeça, como que à espera de ouvir repetir a ordem. K. podia ter encorajado o homem a entrar, mas estava firmemente resolvido a cortar de vez, não só com o advogado mas também com todas as pessoas da casa, pelo que permaneceu calado. Leni também ficou calada. Block notou, pelo menos, que ninguém o mandava embora e, nas pontas de pés, entrou no quarto com um ar de expectativa, as mãos cruzadas atrás das costas e deixando a porta aberta para assegurar a sua retirada. Não olhou uma única vez para K., mas conservou o olhar fixo no edredão, sob o qual não se via o advogado por este se ter encostado à parede. Ouviu-se, no entanto, uma voz vinda da cama que perguntava: «O Block já ai está?» Esta pergunta actuou como uma pancada sobre Block, que já tinha avançado um bom bocado; vacilou como se tivesse sido atingido no peito e em seguida nas costas, de modo que, dobrando-se muito, parou e respondeu: «Ao seu dispor.» «Que é que o senhor quer?», perguntou o advogado. «O senhor chegou na altura menos oportuna. » «Não me chamaram?», perguntou Block, mais para si próprio do que para o advogado, estendendo as mãos como a proteger-se e preparando-se para regressar. «Chamaram-no, sim», respondeu o advogado, «e, no entanto, chegou na altura imprópria.» Depois de uma pausa continuou: Uivem sempre na altura mais imprópria.» A partir do momento em que se ouviu a voz do advogado, Block desviou os olhos da cama e parou a escutar, fitando um canto distante, como se o olhar para o advogado lhe ferisse a vista. Todavia, custava-lhe ouvir a voz do advogado, visto que este falava muito perto da parede, num tom de voz baixo e rápido. «O senhor doutor quer que eu me vá embora?», perguntou Block. «Bem, já que aqui está», respondeu o advogado, «fique!» Uma pessoa pensaria que, em vez de satisfazer a vontade de Block, o advogado o ameaçava de ser espancado, pois o homem começou a tremer verdadeiramente. «Ontem», começou o advogado, «estive como terceiro juiz, que é meu amigo, e, a pouco e pouco, conduzi a conversa para o seu caso. Quer saber o que ele me disse?» «Oh, por favor, diga!», pediu Block. Como o advogado não começasse imediatamente a falar, Block implorou novamente, parecendo estar prestes a pôr-se de joelhos. K. interveio, porém, com um berro: «Que é que o senhor está a fazer?» Leni tentou abafar o seu grito e, por isso, K. agarrou-lhe também a outra mão. Não tinha nada de amorosa a maneira como ele a agarrava; ela gemia de vez em quando a lutar por se desprender dele.





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