A Confissão de Lúcio - Cap. 8: CAPÍTULO 6 Pág. 73 / 93

Mas lembrei-me de ver estas ruas novas… Ando tão aborrecido…

- Do calor?

- Não… E tu próprio… diz-me… Nunca costumas sair de manhã… sobretudo aos domingos…

- Ah! uma madureza como outra qualquer. Concluí agora mesmo uns versos E na ânsia de os ler a alguém, ia a casa do Sérgio Warginsky para lhos mostrar… É aqui perto… Anda comigo… Fazemos horas para o almoço.

A estas palavras todo eu tremi num arrepio. Silencioso, pus-me a acompanhá-lo, maquinalmente.

O artista quebrou o silêncio:

- Então, e a tua peça?

- Terminei-a a semana passada.

- O quê!? Mas ainda não me tinhas dito coisa alguma!…

Desculpei-me, murmurando:

- É que me esqueci, talvez…

- Homem! tens cada resposta que não lembra ao diabo!… - recordo-me perfeitamente de que ele exclamara, rindo. E prosseguiu:

- Mas conta-me depressa… Estás satisfeito com a tua obra?… Como resolveste afinal aquela dificuldade do segundo ato? O escultor sempre morre?… E eu:

- Resolve-se tudo muito bem. O escultor…

Chegáramos defronte do prediozinho verde. Interrompi-me de súbito…

Não! não era ilusão: em face de nós, no outro passeio, Marta sempre nos seus passos leves, indecisos mas rápidos, silenciosos - sem nos ver, sem reparar em redor de si, dirigia-se ao prédio misterioso, batia à porta desta vez, entrava…

E, ao mesmo tempo, apertando-me o braço bruscamente, dizia-me o poeta:

- No fim de contas é um disparate irmos incomodar o russo. O que eu estou é ansioso por conhecer o teu drama. Vamos buscá-lo os dois a tua casa. Quero ouvi-lo esta tarde. Tanto mais que o automóvel precisa conserto. Aquilo, dia sim dia não, é uma peça que se parte…

* * *

Vivi todo o resto desse dia como que envolto num denso véu de bruma. Entanto pude ler o meu drama a Ricardo e a Marta.





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